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Sismos e composição geológica da região de Mariana

Em 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, MG, ocorreu o rompimento da barragem do Fundão, controlada pela Samarco Mineração S.A., construída a fim de conter os rejeitos provenientes da extração de minério de ferro das minas da região. Considerado como o desastre industrial que causou maior impacto ambiental da história brasileira, foram despejados um total de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, chegando à bacia do Rio Doce, a qual abrange 230 municípios mineiros e atingindo até as águas do Espírito Santo (Schreiber, 2015). Segundo Schaefer et. al (2017), foi no Rio do Carmo, as nascentes de Mariana, o primeiro garimpo de ouro do Brasil e, não coincidentemente, na primeira bacia explorada, houve o maior desastre ambiental do Brasil.


Como dito anteriormente, os rejeitos da barragem afetaram cidades pelo estado de Minas Gerais e Espírito Santo, percorrendo mais de 600 km em direção ao Oceano Atlântico, como mostra a Figura 1, afetando diversas áreas de preservação, corpos d’água, fauna e flora locais que estavam compreendidos por toda a extensão do território afetado. De acordo com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (2015), a área mais afetada foi a região compreendida entre o Rio Gualaxo e o Rio do Carmo, ambos pertencentes à bacia hidrográfica do rio Doce, que possui mais de 83400km², em que 86% se localiza no estado de Minas Gerais e 14% está no estado do Espírito Santo.


A barragem rompida se encontrava em um anfiteatro de sopé montanhoso entre o Bloco Montanhoso do Caraça e a Serra de Antônio Pereira e o Alto de Conta História, região localizada em um geoambiente de transição, sendo o mais instável de todos na região da bacia hidrográfica do rio Doce e composta principalmente por rochas como filitos, quartzitos, xistos e gnaisses profundamente alterados, além de rochas como cangas.(Schaefer et. al, 2017)


Figura 1: Municípios afetados pela Pluma do Rio Doce após o rompimento da Barragem de Rejeitos em Mariana/MG

Fonte: Elaborado por Thiago Leonardo Soares, disponível em: http://blogdopg.blogspot.com/2018/11/a-tragedia-de-mariana-tres-anos-depois.html


Nos arredores da localização da barragem de rejeitos da Samarco, podem ser achadas diversas falhas e contatos geológicos de grande extensão que possuem direções coincidentes, fazendo com que fique mais evidente as fraquezas estruturais já existentes no local resultantes do processo geológico de formação. Essas evidências mostram como houve uma negligência desde a escolha do local para a locação da barragem, com o seu planejamento sempre voltado para a redução de custos, sem o enfoque necessário para a segurança e bom desempenho da barragem a longo prazo. Ademais, barragens de rejeitos de minérios costumam ser locadas próximas às jazidas dos minerais explorados e, tendo em vista que haverá o esvaziamento gradual das cavas próximas, irão acontecer alívios de cargas, movimentações de terra e fluxos hidrológicos que são pouco previsíveis e devem ser monitorados. (Schaefer et. al, 2017)


Diferente do conhecimento comum, ocorrem pequenos tremores por todo o Brasil, porém a maioria é de pequena magnitude e não são notados. Portanto, além dos fatores supracitados, a atividade sísmica no local pode ter acelerado a ruptura da barragem em Mariana. Segundo o centro de sismologia da Universidade de São Paulo (2015), em seu relatório de tremores de terra ocorridos em Mariana e Bento Rodrigues, no dia 05/11/2015, foram registrados seis pequenos tremores próximos a região que era explorada pela Samarco, que ocorreram poucas horas antes do rompimento, conforme pode ser visto na Tabela 1.


Tabela 1: Tremores registrados pela rede sismográfica brasileira na região de mineração da Samarco, em Mariana, MG.

Fonte: Centro de sismologia da Universidade de São Paulo (2015)


Analisando os fatores geológicos e geotécnicos envolvidos com a barragem, percebe-se que sua locação em seu projeto inicial já foi feita em uma área com algumas problemáticas para o tipo de obra, como falhas e contatos geológicos, que aumentam a permeabilidade dos resíduos da barragem. Além disso, segundo o engenheiro Norbert Morgenstern (2016), um dos especialistas que participou da investigação sobre o rompimento da barragem, os pequenos sismos na região não foram os causadores do rompimento, mas iniciaram o fluxo de rejeitos, acelerando a liquefação dos materiais que compunham a barragem. Porém, o rompimento da barragem de Marina pode ser atribuído à negligência da empresa responsável, já que todos os fatores indicados acima poderiam ser contornados, uma vez que os mesmos eram conhecidos por estudos geológicos e sismológicos da região.


Referências:


SCHAEFER, C. E. G. R. ; SANTOS, E. E. ; SOUZA, C. M. ; DAMATO NETO, J. ; FERNANDES FILHO, E. I. ; DELPUPO SOUZA, K. K. . Cenário histórico, quadro físiográfico e estratégias para recuperação ambiental de Tecnossolos nas áreas afetadas pelo rompimento da barragem do Fundão, Mariana, MG. Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico , v. 24, p. 104-135, 2017. Acesso em 07 de março de 2023.

SCHREIBER, Mariana. Desastre em Mariana foi acidente ou crime? ‘É precipitado avaliar’ diz ministro. BBC Brasil. 11 de novembro de 2015. Acesso em 05 de março de 2023.

USP, Relatório, 06 de novembro de 2015. 7 P., In: http://www.sismo.iag. usp.br. Acesso em 07 de março de 2023.




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