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Os prédios “tortos” de Santos e o que a geologia tem a ver com isso

Na década de 50, após a construção da rodovia que liga Santos a São Paulo, os casarões que eram comuns de serem vistos pela cidade litorânea começaram a dar lugar a grandes edifícios com vista para o mar. Pela suposta aparência de resistência do solo, os edifícios foram feitos com fundações rasas, já que foi deduzido que o mesmo poderia suportar os esforços direcionados a ele. Devido a limitações tecnológicas da época, não foi realizado um estudo de porções mais profundas do substrato local, o que fez com que na década de 70 ficassem visíveis recalques diferenciais nos prédios, ou seja, eles estavam “tortos”.

Com o passar do tempo, ficava cada vez mais visível a inclinação das construções, como é possível ver nas Figuras 1 e 2, e os moradores começaram a temer alguma tragédia, enquanto os turistas buscavam presenciar e ver com os próprios olhos a situação, tornando-se um ponto turístico da cidade. Contudo, apesar de ser uma nova atração, esse acontecido desvalorizou muito os imóveis na região e inviabilizou a venda de muitos deles. Uma solução para tal problema começou a ser buscada mais ativamente apenas nos anos 2000, quando pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Santa Cecília (Unisanta) se reuniram para realizar estudos a fim de entender melhor a situação e buscar uma solução viável. (MARTINO, 2022)

Figura 1: Comparação dos prédios mais antigos com os mais novos na orla de Santos



Figura 02: Comparação das fundações dos prédios da orla de Santos com o perfil geológico






A situação não era simples, além de já existirem prédios com movimentações laterais que chegaram a 1,8 metro, muitos dos moradores eram idosos então a correção teria de ser feita sem que os tirassem de lá. A partir dos estudos realizados, foi possível observar dois fatores principais: primeiro a questão do solo, em que a geologia local não favorece a construção de obras com tamanha carga sem o uso de fundações mais profundas, e segundo, somado a isso, houve uma superposição de bulbos de tensão devido a proximidade dos prédios. A pressão imposta por uma estrutura no solo não se dispersa em linhas retas verticais, mas sim em “bulbos”, como é possível observar na figura 3, onde é explicado que essa superposição acelera o recalque, já que uma parcela do solo recebe o esforço de mais de um prédio, fazendo com que ele ceda mais do que seu entorno. (MENEZES, 2023)




Figura 03: Demonstração gráfica da superposição de bulbos de tensão no solo da orla de Santos






Oito anos após o início desse estudo chegaram a uma solução: aprumar o prédio com equipamentos hidráulicos elevando 5 milímetros por dia, apoiando a estrutura em chapas metálicas, além da construção de vigas com 55 metros que foram conectadas à antiga fundação após o reaprumo, o resultado final pode ser visto na Figura 4. Levantar edifícios de mais de dez andares, “escorar” e fazer uma fundação mais firme foi um trabalho extremamente custoso, no qual o orçamento para esse feito foi cerca de R$1,5 milhão para cada prédio. (CONHEÇA... 2022)

A Orla de Santos é um exemplo claro de como a tecnologia pode nos ajudar durante o planejamento de uma obra, como é importante se ter atenção aos detalhes desde o início, uma vez que o custo para corrigir os erros é sempre maior do que seria para evitá-los em primeiro lugar. Conhecer o substrato através do estudo geotécnico da região é de suma importância para que se evitem ocasiões como esta ou até piores, e, neste caso, o prejuízo financeiro acabou sendo o maior problema.




Figura 04: Comparativo de antes e depois da correção feita nos prédios da orla de Santos






Referências:


CONHEÇA a história dos prédios tortos de Santos. 2022. Disponível em: https://summitmobilidade.estadao.com.br/urbanismo/conheca-a-historia-dos-predios-tortos-de-santos/. Acesso em: 20 set. 2023.




MARTINO, Giovana. A história dos edifícios tortos de Santos. 2022. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/961668/a-historia-dos-edificios-tortos-de-santos?ad_medium=gallery . Acesso em: 20 set. 2023.


MENEZES, Guilherme. Por que os prédios de Santos são tortos? 2021. Atualizado em 2023. Disponível em: https://engenharia360.com/por-que-os-predios-de-santos-sao-tortos/ . Acesso em: 20 set. 2023.



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