Funcionamento de Aterros Sanitários
Provavelmente em algum momento da sua vida você já ouviu falar em aterro sanitário. Seja nos noticiários, em alguma aula da faculdade, ou até mesmo nas redes sociais do Geoportal UFJF. Mas afinal, como se dá o funcionamento dessa obra? Qual a sua finalidade? Vamos entender melhor nessa postagem.
Resíduos Sólidos Urbanos
Os resíduos sólidos urbanos, popularmente chamados de lixo, são aqueles resultantes das atividades domésticas e comerciais das cidades. Os mesmos possuem composição bastante variada: podemos encontrar restos de comida, papel, plástico, vidro, metais, dentre outros. Vale ressaltar que muitos desses resíduos podem ter destinações mais nobres que o aterro sanitário, como a reciclagem ou a compostagem.
A disposição em aterro sanitário, em teoria, é considerada uma das técnicas mais eficientes e seguras de destinação de rejeitos – tipo específico de resíduo sólido cujo todas as possibilidades de reaproveitamento ou reciclagem já foram esgotadas e não há solução final para o item ou parte dele. As únicas destinações plausíveis para os rejeitos são encaminhá-los para um aterro sanitário licenciado ambientalmente ou incineração.
Aterros sanitários
O aterro sanitário é uma obra de engenharia projetada sob critérios técnicos, cuja finalidade é garantir a disposição ambientalmente correta dos resíduos sólidos urbanos, de modo que os descartes não causem danos à saúde pública ou ao meio ambiente. De acordo com as formas de construção e operação adotadas, eles se dividem em dois grupos: aterros convencionais e aterros em valas.
O aterro convencional é formado por camadas de resíduos compactados, que são sobrepostas acima do nível original do terreno, resultando em configurações típicas de escadas ou pirâmides (Figura 01). Já o aterro em valas é projetado para facilitar o aterramento dos resíduos e a formação de camadas por meio do preenchimento total de trincheiras, de modo a devolver ao terreno a sua topografia inicial (Figura 02).
Independente do tipo, a decomposição dos resíduos depositados nos aterros sanitários gera como subprodutos o chorume e o biogás (metano), que precisam ser tratados para não causar contaminação do meio ambiente. O chorume é um efluente líquido e escuro, rico em matéria orgânica e metais pesados, que na ausência de tratamento adequado pode causar diversos impactos ambientais. O metano, por sua vez, é um potencial gás de efeito estufa, contribuinte para o aquecimento global.
Figura 01: Aterro sanitário convencional. Fonte: Prefeitura de Curitiba [2].
Figura 02: Aterro sanitário em valas. Fonte: MS Informa [3].
Elementos do projeto de um aterro sanitário
O projeto de um aterro sanitário deve prever a instalação de elementos para captação, armazenamento e tratamento do chorume e do biogás, além de sistemas de impermeabilização superior e inferior, sendo todos estes fundamentais para que a obra seja considerada segura e ambientalmente correta. Essas estruturas são ilustradas na Figura 03.
Figura 03: Elementos de um aterro sanitário. Fonte: Diprotec GEO [4].
Um primeiro ponto a se destacar nos elementos constituintes dos aterros sanitários é a presença de uma impermeabilização de fundo e de laterais, a qual possui a função de proteger e impedir a infiltração do chorume no subsolo e nas águas subterrâneas. Essa impermeabilização geralmente é feita com auxílio de geomembranas, todavia, é muito importante que a geologia do local também seja favorável, contando com solos e rochas de baixa permeabilidade, por exemplo.
O sistema de drenagem das águas superficiais no aterro sanitário tem o objetivo de evitar a entrada de água de escoamento superficial (basicamente, a água de chuva) no aterro, pois a infiltração destas pode aumentar o volume de lixiviado e causar instabilidade na massa de resíduos, podendo gerar acidentes.
Com relação ao chorume produzido no aterro, o mesmo deve ser coletado por um sistema de drenagem para evitar sua acumulação dentro do aterro, e, posteriormente, deve passar por um sistema de tratamento, tendo em vista que se trata de um líquido composto por metais pesados e substâncias tóxicas, altamente danoso ao meio ambiente.
O aterro sanitário também deve conter um sistema de drenagem de gases adequado, de modo a evitar que os gases gerados pela decomposição dos resíduos escapem através dos meios porosos que constituem o subsolo do aterro sanitário e atinjam fossas, esgotos e até edificações.
O sistema de cobertura diário, realizado ao final de cada jornada de trabalho, tem a função de eliminar a proliferação de animais e vetores de doenças, diminuir as taxas de formação de lixiviado, reduzir a exalação de odores e impedir a saída do biogás. A cobertura intermediária é necessária naqueles locais onde a superfície de disposição ficará inativa por mais tempo, aguardando, por exemplo, a conclusão de um determinado patamar. A cobertura final, por sua vez, tem como objetivo evitar a infiltração de águas pluviais e o vazamento dos gases gerados na degradação da matéria orgânica para a atmosfera [1].
É importante salientar, também, que a compreensão das propriedades geológico-geotécnicas contribuem ativamente no processo de escolha de uma área de implantação de aterro, uma vez que relacionam parâmetros importantes, como o nível de percolação de agentes contaminantes, evitando, portanto, danos ao meio-ambiente e à saúde humana. Sendo necessário ainda, que esta área atenda à legislação vigente e às necessidades da população [8].
Diferença entre aterros sanitários, aterros controlados e lixões
Agora que sabemos o que são aterros sanitários, é importante que fique claro que eles possuem diferenças se comparados aos aterros controlados e, principalmente, aos lixões. Os lixões (Figura 04) são locais totalmente inapropriados para a disposição dos resíduos, pois não possuem nenhum tipo de controle que impeça a contaminação do solo e da atmosfera pelos gases e líquidos liberados pelo processo de decomposição.
Figura 04: Lixão da Estrutural, o maior lixão da América Latina. Fonte: ((o))eco [6].
Já os aterros sanitários, como mencionado anteriormente, contam com vários elementos que visam reduzir ao máximo os impactos negativos causados ao meio ambiente, como a impermeabilização, a drenagem de líquidos e gases e as camadas de cobertura. Em contrapartida, os aterros controlados (Figura 05) não têm o solo impermeabilizado, nem contam com sistema de captação de chorume e gases tóxicos. Logo, não são tão eficientes no controle da poluição, mas ainda são mais vantajosos que os lixões, pois o lixo é depositado de forma controlada, sendo compactado e recoberto por uma camada de terra, o que reduz o impacto tanto dos efluentes líquidos como também da emissão de gases tóxicos [5].
Vale ressaltar que os aterros controlados geralmente são construídos ao lado de lixões como uma forma de amenizar os problemas gerados pelo lixo depositado a céu aberto. Porém, ainda que atenuem alguns impactos ambientais, eles não são a forma ideal de disposição final do lixo [5].
Figura 05: Exemplo de aterro controlado. Fonte: VR [7].
Referências
[1] eCycle. Aterro sanitário: como funciona, impactos e soluções. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/aterro-sanitario/>. Acesso em: 29 jun. 2021.
[2] PREFEITURA DE CURITIBA. Aterro Sanitário de Curitiba. Disponível em: <https://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/aterro-sanitario-de-curitiba/454>. Acesso em: 30 jun. 2021.
[3] MS Informa. Aterro Sanitário recebe novas valas com mais de 1200m2. Disponível em: <https://www.msinforma.net.br/noticia/129/aterro-sanitario-recebe-novas-valas-com-mais-de-1200m-sup2->. Acesso em: 30 jun. 2021.
[4] Diprotec GEO. GEOSSINTÉTICOS NA CONSTRUÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS. 2018. Disponível em: <http://diprotecgeo.com.br/blog/geossinteticos-na-construcao-de-aterros-sanitarios/>. Acesso em: 30 jun. 2021.
[5] Translix. Disposição final de lixo: qual a diferença entre aterro sanitário e aterro controlado. Disponível em: <https://www.translix.com.br/aterro-controlado>. Acesso em: 1 jul. 2021.
[6] ((o))eco. Maior lixão do país foi fechado depois de 60 anos de atividades. Disponível em: <https://www.oeco.org.br/noticias/maior-lixao-do-pais-foi-fechado-depois-de-60-anos-de-atividades/>. Acesso em: 1 jul. 2021.
[7] VR. Aterro controlado de lixo. Disponível em: <https://www.vrgestaoresiduos.com.br/aterro-controlado-lixo>. Acesso em: 1 jul. 2021.
[8] PIRES, N. R. et al. IMPORTÂNCIA DOS FATORES GEOLÓGICOS NA ESCOLHA DE UMA ÁREA DE ATERRO SANITÁRIO. In: Congresso de Engenharia Civil, VI, 2019, Juiz de Fora. Anais… Juiz de Fora, 2019.
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