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Foto do escritorRenata Silva

Breve Histórico


De acordo com as informações disponibilizadas por [1], a exploração de minério de ferro da mina do Córrego do Feijão teve início em 1956, pela então Cia. de Mineração Ferro e Carvão, passando, em 1973, a ser controlada pela Ferteco Mineração. Em 2003 a mina foi incorporada à, ainda, Companhia Vale do Rio Doce, que foi nomeada Vale S.A a partir de 2009. As negociações começaram no ano de 2001, foi comprada pela Vale por US $566 milhões[3].

A barragem do Córrego do Feijão foi construída[2], utilizando o método construtivo de alteamento a montante. A altura da barragem era de 86 metros e o comprimento da crista era de 720 metros. Os rejeitos dispostos ocupavam uma área de 249,5 mil metros quadrados e o volume disposto era de 11,7 milhões de metros cúbicos.

Esta barragem tinha como finalidade a disposição de rejeitos do processo de beneficiamento a úmido de minério de ferro[4], de acordo com informações da Vale S.A[2], a barragem estava inativa (não recebia rejeitos), não tinha a presença de lago e não existia nenhum outro tipo de atividade operacional em andamento. Naquele momento, encontrava-se em desenvolvimento o projeto de descaracterização da barragem.


Rompimento da Barragem


De acordo com [1], a Barragem I consistia em um antigo depósito de rejeito de mineração (lama), que acumulou ao longo de mais de quarenta anos de vida uma poderosa capacidade destrutiva. Repleta de lacunas no histórico dos projetos de construção e alteamentos, recebeu rejeitos por décadas sem o devido controle. Nos dois últimos anos de sua existência, já dava sinais claros de falência, com riscos de rompimento inaceitáveis (intoleráveis) e proibidos.

Às 12h28min20s do dia 25 de janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da Barragem I (B 1) acarretando no rompimento, em sequência, das barragens B-IV e B-IV-A da mina de Córrego do Feijão, do Complexo Paraopeba II, localizada em Brumadinho/MG.[4]

Com o rompimento, houve carreamento de aproximadamente 12 milhões de m³ de rejeitos. Desses, uma parte permaneceu na área da antiga B-I, cerca de 2 milhões de m³. Na calha do ribeirão Ferro-Carvão até sua confluência com o rio Paraopeba, ficaram depositados 7,8 milhões de m³ e a parte restante (2,2 milhões de m³) atingiu a calha do rio Paraopeba, propagando-se até o remanso da Usina Hidrelétrica (UHE) de Retiro Baixo, entre os municípios mineiros de Curvelo e Pompéu.[4]

Após o rompimento da Barragem BI, da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale S.A, provocou a morte de 272 vítimas, sendo 2 nascituros e 11 Joias – como são chamadas pelos familiares as vítimas que ainda não foram localizadas - representando um dano irreparável[4]. Além da devastação do meio ambiente impactado direta e indiretamente, pequenas comunidades preferiram abandonar suas moradas, sejam em áreas urbanas ou rurais, tendo que abandonar animais e rebanhos à própria sorte, que obviamente não sobreviveriam à saciação com água contaminada. [1]


Tragédia em fotos



FIGURA 1- Áreas atingidas



FIGURA 2 - Lama no Rio Paraopeba



FIGURA 3- Destruição causada pela Lama na cidade de Brumadinho



FIGURA 4- Intoxicação por metais pesados


Conclusão


Segundo [1], os dois desastres causados pela mineradora Vale S.A., de ruptura de barragens, Brumadinho e Mariana, permitem considerar que, pela sequência, não seriam de todo incomuns, e que no mínimo se devem a graves problemas na gestão de segurança das barragens, ou até mesmo da atividade. [1] Nesse sentido, parece ser que o desastre pode ser o resultado dos efeitos perversos da combinação do desprezo na gestão de segurança das barragens, afetando a qualidade dos ecossistemas impactados e expondo a população a situações de alto risco e mesmo perigo devido a processos naturais e humanos inadequados, e da ineficiência do modelo de licenciamento e fiscalização dessa atividade.

De acordo com [1], as principais causas que levam a incidentes em barragens de mineração são :

  • a manutenção deficiente das estruturas de drenagem;

  • a ausência de monitoramento contínuo e controle durante construção e operação;

  • o crescimento das barragens sem adequados procedimentos de segurança;

  • a sobrecarga a partir de rejeitos de mineração.

Não há dúvidas de que Brumadinho foi um abalroamento na visão de como funciona a atividade minerária, com um possível impacto geracional, análogo, mas não comparável, ao que foi para os russos o acidente de Chernobyl. A lição que fica, é que é preciso reagir, ser resiliente, já que infelizmente não se pode afirmar que um desastre em semelhantes condições não voltará a acontecer[1].


Referências bibliográficas:


[2]Site da Vale; disponível em: < http://www.vale.com/esg/pt/Paginas/Brumadinho.aspx>

[4] Estado de Minas Gerais disponível em: < https://www.mg.gov.br/conteudo/pro-brumadinho/historico>



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Ruas e imóveis nos bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange em Maceió, Alagoas, foram acometidos por rachaduras e crateras após fortes chuvas e um tremor de terra no início de 2018. Em 8 de maio de 2019, após extenso estudo e longas discussões, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) concluiu que a extração de sal-gema promovida pela Braskem foi a principal responsável pela subsidência dos bairros [1].


Conclusões quanto às causas

Para entender o processo de subsidência do solo em Maceió, foram feitos [2]:

  • levantamentos geológicos e geotécnicos, a partir de sondagens, mapeamentos e análises bibliográficas, para entender a estrutura e a formação do solo da região;

  • análises geofísicas, por meio de batimetria, gravimetria e propagação de ondas elétricas, para averiguar a existência de falhas geológicas ou vazios no subsolo (sejam de origem natural ou antrópica);

  • modelagens 3D, a partir de informações coletadas nas etapas anteriores, para caracterizar a região e fundamentar as conclusões.


A partir desses estudos, a CPRM chegou às seguintes conclusões (para maiores discussões, acesse nosso último artigo) [2]:

  • Os bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange estão assentados sobre uma formação geológica de solo silto-arenoso - um solo mais suscetível a processos erosivos, porém com baixa tendência a colapsar ou expandir. Por isso, descartou-se a ideia de que a geologia local era a responsável pela subsidência dos bairros.

  • Existem falhas e fraturas de origem tectônica sob a região, as quais geram áreas preferenciais para a percolação de água rumo aos aquíferos (reservatório subterrâneo natural de águas). As perfurações para extração de sal-gema interceptaram algumas dessas falhas, contribuindo para sua reativação.

  • A mineração alterou a tensão do maciço rochoso sob os bairros (Formação Maceió, composta majoritariamente por arenitos e clastos ígneos e metamórficos), o que implicou o desplacamento do teto e o colapso de algumas minas.


O processo de mineração

Desde as décadas de 1980 e 1990 são registrados casos de desmoronamento de minas de sal na região. Quando o desmoronamento ocorre ainda na camada de sal, existem técnicas de pressurização e controle passíveis de implementação (as quais foram ignoradas pela Braskem para reduzir gastos com energia); quando o desmoronamento ascende para uma região porosa, a tendência é que ele continue, gerando sinkholes como e de Matarandiba, na Bahia (Figura 1) [3].


Figura 1. Sinkhole causado pela mineração de sal em Matarandiba, Bahia. Fonte: [3].


O tipo de lavra adotado pela Braskem é o de lavra por solução. Inicialmente, poços são escavados sobre a camada de sal-gema, tanto em planos verticais quanto inclinados. Em um poço, injeta-se água, a qual dissolve o sal e permite sua remoção sob a forma de salmoura (solução com alta concentração de sais) por um segundo poço. Um terceiro poço é escavado para controlar e medir a profundidade dos outros poços [4]. Para garantir que não haveria ligações entre os poços de extração, o projeto das lavras delimitava que os pilares entre os poços deveria ter, no mínimo, 75 metros de espessura - o que não foi respeitado e provocou a união de cavidades em cavernas ainda maiores (Figura 2) [3].



Figura 2. Localização das minas da Braskem em Maceió. Em vermelho, as minas que não respeitaram a largura mínima de pilar prevista no plano de lavra. Fonte: [3].


Para entender a distribuição de tensões no subsolo sobre as cavernas de extração, considere o esquema da Figura 1. Exatamente sobre as cavidades, os esforços são majoritariamente verticais, indicando compressão das camadas de solo e rocha. Ao se afastar para as extremidades da zona de extração, os vetores vão se horizontalizando, tracionando as camadas mais superficiais [3].



Figura 3. (A) Representação das tensões ao longo das camadas geológicas sobre as cavernas de mineração de sal-gema. Adaptado de [3].


Como averiguado em Bayou Corne Creek, nos Estados Unidos, a formação de crateras e o afundamento do solo pode ser desviado por falhas geológicas pré-existentes - algo que também foi observado em Maceió - as quais são reativadas pelo novo estado de tensões após a extração do sal-gema [3].


Principais consequências

A movimentação de terra em Maceió está provocando o rompimento de instalações subterrâneas de esgoto e águas pluviais e danificando ruas e bens imóveis [4] (Figura 4). Ao romperem, as tubulações sanitárias e de drenagem liberam líquidos no solo, tornando-o cada vez mais saturado e menos resistente a esforços externos. Já as crateras e as rachaduras que surgem na região representam um risco para aqueles que a habitam, pois comprometem a integridade de pavimentos e edificações. Essa soma de fatores contribui para um intenso êxodo interno na capital alagoana, o qual será compensado financeiramente pela Braskem.

Figura 4. Impactos da subsidência no bairro Pinheiros em Maceió, Alagoas. Fonte: [4].


Inicialmente, o programa de indenizações da mineradora envolvia 17 mil pessoas. Agora, já contempla 65 mil - cerca de 17 mil famílias - com tendência a aumentar. Com a região próxima à lagoa Mundaú deserta, a Defesa Civil de Alagoas propõe que outras 10 mil pessoas dos bairros Flexal de Cima, Flexal de Baixo, Bom Parto e Vila Saem - comunidades pobres no entorno da área afetada pela mineração - também sejam inseridas no programa de compensação financeira da Braskem devido ao forçado isolamento social e econômico [5]. Até maio de 2021, cerca de 50 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas devido à classificação da região como área de risco [6].


Com o abandono maciço das residências - às vezes feito às pressas -, os casos de furtos e arrombamentos na região aumentaram, contribuindo para a sensação de insegurança e para a redução do fluxo de pessoas [4]. Assim, reduz-se também a oferta de serviços básicos de limpeza e aumenta-se o entulho acumulado em ruas e residências - o qual aumenta cada vez mais com os desmoronamentos causados pelos tremores de terra e pelo afundamento do solo.


Referências


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A construção da Vila Pan-Americana, projetada para receber os atletas dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, custou cerca de R$ 230 milhões e foi tida como um sucesso de vendas. O empreendimento, financiado pela Caixa e incorporado pela construtora Agenco, já havia iniciado os trabalhos preliminares à construção em outubro de 2003, no entanto devido a entraves burocráticos, a liberação do dinheiro só foi firmada em 2004. O então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, classificou a obra como “o maior contrato assinado pelo esporte brasileiro” [1].

O complexo da Vila Pan-Americana conta com 17 prédios e 1480 apartamentos, e foi entregue ao proprietários em 2007, ao final dos jogos do Pan Rio 2007, mesmo não estando 100% concluído.

O terreno turfoso da região exigiu que o estaqueamento e reforço não apenas das construções como das vias do entorno. Ao passo que executou-se corretamente as fundações dos edifícios, não se teve o mesmo zelo em relação às ruas e calçadas. Devido ao não cumprimento de acordos da prefeitura para com a Agenco, as vias de acesso ao condomínio foram asfaltadas apenas, sem correta implantação da infraestrutura que o solo local exigia [2][3]. Por esse motivo, já em 2009 os moradores observavam que o terreno ao redor dos edifícios cedia, o que resultou na visita do Conselho Regional de Engenharia (CREA-RJ) [4]. A Figura 1 mostra o terreno cedendo em um dos pontos próximos aos edifícios.


Figura 1. Desnível no terreno da via. Fonte: O Globo


Além dos problemas devido a mobilidade e estacionamento, os afundamentos nos entornos dos edifícios levaram moradores a remanejarem tubulações de gás e redes de telefonia, que se tornaram visíveis apesar de inicialmente instaladas no subsolo, devido aos problemas estruturais [3]. O mesmo problema ocorreu em tubulações de águas pluviais e nas caixas de gordura [5]. Desde 2011, a prefeitura do Rio tem realizado então obras para recuperar as vias locais [6].

Uma intervenção nas vias desniveladas realizadas pela Geo-Rio ainda está por trás do aparecimento de fissuras nas garagens de edifícios do local, de acordo com um relatório de consultoria contratada junto a Fundação Coppetec, ligada à Coppe/UFRJ. A Geo-Rio optou inicialmente pela injeção de concreto no subsolo turfoso de modo a estabilizar o terreno e conter os afundamentos, no entanto esse tratamento apesar de bem sucedido nas vias principais, levou ao afundamento dos entornos e e ao aparecimento de trincas e afundamento também de duas garagens do condomínio [3]. A situação da garagem do bloco 8, que foi condenada devido ao afundamento e deslocamentos das vigas, pode ser vista na Figura 2.



Foto 2. Garagem do bloco 8 do condomínio. Fonte: Jornal Extra


Essas trincas levaram à interdição das garagens pela Defesa Civil, que no entanto afirmou não haver risco de desabamento iminente dos edifícios [4]. Apesar da apreensão dos moradores, o diretor de projeto da Geo-Rio Luís Otávio Vieira afirmou que:


“Não existe risco nenhum, os prédios estão seguros, inclusive já tivemos uma reunião no condomínio levando o projetista estrutural que atestou junto com a gente a Geo-Rio, o fato que não existe risco para os prédios, o único problema é o transtorno que está acontecendo na mobilidade e na questão da infraestrutura” [5].


Apesar dos edifícios não apresentarem risco de desabamento, o afundamento do solo em determinados pontos da vila levou chegou a impedir moradores de acessarem os prédios, sendo necessária a construção de rampas de acesso para veículos. Os afundamentos levaram ao rompimento da tubulação de esgoto e ao surgimento de crateras em diversos pontos, além da interdição, em 2014, de 200m de trecho de uma avenida que atravessa os condomínios por representar um risco real para os motoristas [5]. Além disso, as calçadas se tornaram desniveladas ou simplesmente cederam em determinados trechos, tornando perigoso o trânsito a pé de crianças e idosos [6].

Esses problemas na infraestrutura viária, juntamente com as obras ainda inacabadas, levaram à depreciação dos imóveis do condomínio, que chegaram a ser comercializados por 50% do valor de apartamentos de prédios da mesma região [7].

Após o insucesso da primeira tentativa de estabilização, a solução adotada foi de uma laje estaqueada ao longo de todo o trecho a ser reurbanizado [8]. As obras, com término inicialmente previsto para o final de 2016 [8], foram estendidas. O projeto sofreu pausas devido às Olimpíadas realizadas no Rio em 2016, sendo retomado após protestos de moradores da Vila em 2017 [9]. Outra pausa ocorreu em 2018, mas novamente as obras foram retomadas em 2019 [10]. Além da estabilização de todo o trecho afundado, a Geo-Rio estaria fazendo obras de recuperação nas garagens dos blocos 5, 6, 7 e 8 [10]. A Figura 3 apresenta trecho final da primeira fase das obras de estabilização.



Figura 3. Trecho final da primeira fase de obras para recuperação de vias da Vila do Pan. Fonte: O Globo


Com o andamento das obras, o preço dos apartamentos da Vila passa por uma nova valorização. Entretanto, além da segunda fase das intervenções que devem ocorrer em outros blocos e na avenida Claudio Besserman Vianna [10], a prefeitura terá de realizar também outros trabalhos na Vila como arruamento, calçamento, iluminação pública, adequação da rede de esgoto e captação e escoamento pluvial, que foram prejudicados com os afundamentos [9].



Referências


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