Hoje viemos compartilhar com vocês um dos materiais produzidos com muito amor pela Equipe Geoportal, que tem sido utilizado no Projeto de extensão. Fique à vontade para se inspirar e aprender também!
Cálculos, físicas… muitos números! É essa a impressão que qualquer pessoa tem da matriz curricular do curso de Engenharia Civil. Entretanto, o conteúdo abordado durante essa graduação vai muito além de ensinar um aluno a construir casas e prédios. Um engenheiro civil também está capacitado para projetar túneis, estradas, barragens, pontes e tantas outras coisas que a sociedade nem sempre se lembra. Por isso, é notável a importância de se estudar as ciências da natureza e se conhecer o meio em que vivemos. Neste estudo, destaca-se a Geologia: a ciência que estuda a origem, história, vida e estrutura da Terra.
Figura 1: Túnel de Gothard (Suíça) – Túnel mais longo do mundo
Figura 2: Ponte Akashi-Kaikyo (Japão)
No âmbito da Engenharia Civil, a Geologia serve como base para o conhecimento de materiais de construção civil e de obras relacionadas com a geotecnia. É importante notar que houve um grande crescimento desta Ciência da Terra desde a década de 1980 — principalmente no que se trata de mecânica das rochas, geomorfologia, hidrogeologia, estudo de terremotos e geoquímica. Porém, apesar desse avanço, os cursos de Engenharia Civil seguiram o caminho contrário e, no geral, reduziram os créditos que se direcionavam a essa área.
Figura 3: Exemplos de materiais de construção
De acordo com Robert Legget — renomado engenheiro civil do século XX — todas as ciências da terra deveriam ser introduzidas aos estudantes desta Engenharia, pois é uma forma de ilustrar a relevância da Geologia nesse campo. Ele também afirmou que os cursos de Geologia Física por si só não é eficiente, pois são as aplicações práticas que mostram os casos em que houve erros geológicos e capacitam os discentes a evitá-los.
A Barragem de St. Francis na Califórnia é um exemplo disso. Construída em um deslizamento de terra da época do Pleistoceno e o engenheiro projetista aumentou sua altura em 20 pés (em torno de 6 metros). Em março de 1928, dois anos após o final da obra, a barragem rompeu causando 600 mortes, percorrendo 52 milhas (quase 84 quilômetros) em 5,5 horas. Foi a partir desse desastre que criou-se uma nova legislação quanto a segurança de barragens que faria levar em conta os Fatores Geológicos na Engenharia Civil.
Figura 4 e 5: Barragem de St. Francis antes e após o desastre causado pela falta de conhecimento da geologia da região
O surgimento de eletivas nas áreas de comunicação, humanas e ciências sociais foi efetivo e não deve ser ignorado, mas as matrizes curriculares de graduação em Engenharia Civil devem abranger conhecimento prático de Geologia, pois esses futuros profissionais estarão lidando com o público e serão responsáveis pela sua segurança.
O engenheiro e professor Richard Goodman acredita que na prática de Engenharia, a geologia pode se tornar umas das disciplinas estudadas mais difíceis de se lidar e que as consequências dos erros quando se trabalha com ela podem ser severas. Vide o desastre na barragem de St. Francis ou mesmo na de Brumadinho e Mariana.
Portanto, é urgente que possamos reintegrar as aplicações em Ciências da Natureza e o curso de Engenharia Civil, para que, assim, seja possível formar engenheiros mais capacitados e preparados para lidar com a responsabilidade de atender o público.
Visando melhorar o aprendizado e aumentar o contato dos alunos com as práticas de Engenharia, as disciplinas de Elementos de Geologia e Geologia Ambiental contam com aulas em laboratório, que possibilitam aos alunos desenvolverem atividades sobre reconhecimento e aplicação de rochas, minerais e solos na Engenharia.
Figura 6 e 7: Atividade de reconhecimento de rochas
Figura 8 e 9: Atividade de reconhecimento de minerais
Figura 3: https://www.guiadoconstrutor.com.br/blog/a-importancia-de-areia-e-pedra-na-construcao-civil
Figura 5: https://www.latimes.com/local/california/la-me-stfrancis-dam-retrospective-20160319-story.html
Baseado no texto de Richard E. Jackson, PhD, P. Eng. da Revista GEOSTRATA, Jan-Fev, 2019
No início deste ano, o Grupo Geoportal, orientado pelas professoras Júlia Righi, Cátia Martins e Tatiana Tavares abraçaram um novo desafio: um Projeto de Extensão que visa a educação ambiental de adolescentes das escolas públicas adjacentes à Universidade Federal de Juiz de Fora.
Universidades Federais e Projetos de Extensão
Pra quem não sabe, projetos de Extensão são parcerias entre a Universidades Federais, professores orientadores e estudantes da Instituição. O objetivo desta associação é levar o conhecimento produzido no meio acadêmico para a sociedade, resultando em maior qualidade de vida para a população. A UFJF declara, em seu site:
"Os projetos e programas de Extensão estão voltados para a atuação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) na articulação entre o ensino, a pesquisa e as demandas da sociedade.
Programas, projetos e demais iniciativas têm o propósito de atuar para a comunidade e de também aprender com ela, no exercício contínuo de troca de saberes e de conhecimentos, buscando a aproximação, a parceria e a experiência enriquecedora deste encontro.”
A PROEX é a responsável pela gestão dos programas de extensão da Instituição. Segundo o site da pró reitoria, a gerência conta com “534 programas e projetos de extensão em vigor e devidamente registrados, sendo 494 projetos e 40 programas.” Estes programas estão distribuídos pelas diversas Faculdades da Universidade, atendendo as ciências humanas, exatas, tecnológicas e da saúde.
O Projeto
A Proposta de trabalho das professoras tem por título Popularização da Geotecnia Ambiental: Geologia, Solos, Resíduos, e atende os alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual São Vicente de Paulo, do bairro Borboleta. São realizados encontros mensais com os jovens, onde são abordados assuntos de cunho geológico/geotécnico como minerais, rochas, solos, descarte de resíduos, gerenciamento de resíduos eletrônicos, entre outros.
Após conversa e exposição de alguns conceitos fundamentais sobre o tema proposto, há execução de atividades práticas, como identificação dos materiais geológicos e quizzes em equipe. Os alunos também recebem uma revista com o conteúdo aprendido, para que possam utilizá-la como fonte de consulta posteriormente.
Segundo o edital, o Objetivo do projeto é promover a aproximação entre as comunidades acadêmica e escolar, além de familiarizar os alunos às temáticas referentes à educação ambiental. Para isso, serão utilizadas abordagens práticas dos assuntos, que conversem com a vivência dos alunos e sua comunidade, a fim de desenvolver o senso de pertencimento destes à sociedade, comunidade escolar e ambiente acadêmico. Por outro lado, visa-se também desenvolver nos discentes integrantes o senso de aprendizagem por problemas e exercício da didática através da confecção de materiais com ações multidisciplinares e multiprofissionais.
Premiações e Publicações
Em março deste ano, ocorreu o Evento Bela, Cientista e do Bar no Bistrô Arteria, em Juiz de Fora. Uma das programações do evento foi o festival de Divulgação Científica, onde mulheres estudantes da graduação, mestrado ou doutorado tiveram oportunidade de mostrar ao público suas pesquisas, projetos, e a importância delas para promoção do bem estar da comunidade. O Projeto de Popularização da Geotecnia Ambiental foi selecionado para apresentação e premiado pelo festival. Em breve será promovido um podcast pela Dragões de Garagem, onde o trabalho será discutido mais detalhadamente. O canal está disponível na plataforma Spotify. Além disso, você vai poder conferir de perto o progresso das oficinas através do nosso blog, Facebook e Instagram!
Nota:
Gostaríamos de ressaltar aqui a importância das Instituições Federais de Ensino Superior. Além de formar profissionais altamente qualificados ao promover ensino de qualidade, elas possuem grande potencial de amenizar as desigualdades, pois permitem o ingresso e permanência de alunos em situação de vulnerabilidade econômica/social aos cursos de graduação.
Estas Instituições também assimilam seu papel social de difundir o conhecimento a fim de modificar a vida dos brasileiros. Isto se evidencia pelos investimentos feitos para que projetos como o reportado nessa matéria aconteçam no país.
Fontes:
Imagens:
Imagem 5: Facebook: Bistrô Arteria
Imagens de 3 a 6 (com exceção da imagem 5): acervo do projeto